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Para além de autistas, todos nós precisamos aprender novas habilidades sociais.

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Quando se fala em habilidades sociais para o autismo costuma-se pensar em uma via de mão única, com ensino e estratégias para desenvolver habilidades sociais apenas nas pessoas autistas. Mas nossa experiência com autismo mostra que para construir essa conexão também é preciso uma mudança na sociedade e essa é uma oportunidade maravilhosa!

A maioria das pessoas autistas têm necessidades complexas de comunicação. Isso quer dizer que ou elas são não verbais (não conseguem falar), ou falam pouco e têm dificuldade de formular sentenças mais longas e de expressar com amplitude e profundidade o que pensam, percebem e sentem. Em razão dessas diferenças, essas pessoas costumam ser mal interpretadas pelos que estão à sua volta que muitas vezes fazem inferências equivocadas em relação à sua inteligência e capacidade de compreensão. Essa costuma ser a razão de muitos comportamentos interferentes, ou disruptivos entre autistas.

Felizmente, cresce o número de autistas de maior nível de suporte que têm conseguido se expressar, mesmo que por textos ou com recursos de comunicação robusta, e pelas redes sociais têm conseguido revelar ao mundo as suas diferenças, suas percepções do mundo e das pessoas à sua volta e sua capacidade produtiva e criativa. Carol Souza é uma dessas pessoas que dia a dia nos prova que a neurodiversidade é uma chance de ouro para o mundo evoluir através do enriquecimento de nossa compreensão das diferenças. Mas para que isso aconteça, a sociedade precisa ser preparada e capacitada para entender e se conectar com as pessoas autistas, desenvolvendo novas habilidades sociais que ajudem a promover a inclusão e a conexão.

 

Dicas para desenvolver suas habilidades sociais:

  1. Compreensão do Novo Normal:
    É importante aceitar e valorizar as diferenças e compreender que o autismo e a neurodiversidade são NORMAIS. Valorize as diferenças de cada pessoa respeitando as necessidades e perspectivas das diferentes formas de pensar, sentir e agir de pessoas autistas e neurodiversas.
  2. Educação Transformadora:
    Sensibilize e eduque outras pessoas para mudar a percepção da sociedade sobre o autismo e a neurodiversidade. É preciso quebrar estereótipos e aprender a ver as pessoas com autismo como indivíduos únicos e não como um grupo homogêneo.
  3. Comunicação Efetiva:
    Aprenda a se comunicar de forma clara e direta, sem jargões ou metáforas, e ofereça suporte para que as pessoas autistas possam se expressar de maneira eficaz. Amplie as formas de se comunicar, seja um parceiro de comunicação aumentativa alternativa.
  4. Atitude Empática:
    Pratique a empatia, a compaixão e escute ativamente as pessoas autistas, com disposição para se colocar no lugar dos outros sem julgamentos e preconceitos. Valide a expressão de opiniões e ideias de pessoas autistas
  5. Seja a Inclusão:
    Promova oportunidades iguais para pessoas autistas e neurodiversas em todos os aspectos da sociedade, como escola, trabalho e atividades recreativas. Todos ganham com a inclusão e quem a promove ganha mais ainda.

Consciente da importância de que você precisa aprender novas habilidades sociais, agora você também pode ensinar para autistas e neurodiversos. Este ensino pode ser feito por meio de abordagens comportamentais, como a ABA. O objetivo é ensinar habilidades funcionais e socialmente relevantes para cada pessoa autista. As estratégias para isso são baseadas em técnicas de reforço, modelagem, modelação e redirecionamento, que têm se mostrado eficazes na mudança de comportamento.

Para estabelecer e manter atividades de lazer, brincadeiras entre pares e desenvolver uma atenção conjunta, é importante uma abordagem de interdependência com a participação de familiares, cuidadores e profissionais envolvidos nas terapias e educação da pessoa autista.

Para isso é preciso identificar interesses e habilidades da pessoa autista, ou seja, a avaliação é o primeiro passo para que se possa fornecer suporte estruturado e modelar comportamentos sociais desejados promovendo a capacidade para que a pessoa autista também possa iniciar interações sociais. Para alcançar esses objetivos, é importante avaliar continuamente o progresso da pessoa autista e ajustar as estratégias de ensino, se necessário.

 

Para começar a desenvolver habilidades sociais é preciso:

  1. Reconhecer o próprio nome e o nome dos outros
  2. Responder ao seu próprio nome
  3. Compreender o propósito de uma conversa
  4. Participar de uma brincadeira social simples
  5. Compreender a importância de compartilhar brinquedos
  6. Reconhecer expressões faciais e corporais básicas
  7. Demonstrar habilidades básicas de comunicação não verbal

 

Somente depois disso é que podemos avançar para etapas mais avançadas como:

  1. Iniciar interações sociais independentes
  2. Manter uma conversa coerente
  3. Compreender a importância de mostrar empatia
  4. Demonstrar habilidades sociais apropriadas em situações diferentes
  5. Participar de atividades de grupo com outras pessoas
  6. Reconhecer e responder a sinais sociais sutis
  7. Desenvolver e manter relacionamentos saudáveis e duradouros.

 

Como ajudar autistas e neurodiversos a estabelecer conexões sociais para apoiar amizades e desenvolvimento de relacionamentos para pessoas com autismo?

  1. Atividades em Grupo:
    Procurar grupos que tenham alguma proximidade ou atividades que sejam de interesse para a pessoa com autismo. Isso ajuda a melhorar as habilidades sociais. Isso pode incluir participar de grupos de apoio, grupos de recreação, ou atividades comunitárias que promovam a interação social.
  2. Mediação:
    Utilizar um mediador ou facilitador capacitado para fazer a conexão com o grupo. Fazer parcerias com pais, professores e outros profissionais para fomentar outras interações sociais. Ajudar a desenvolver relações de amizade e de jogo, proporcionando oportunidades para interações e orientações ao longo do caminho.
  3. Treinamento de Habilidades Sociais:
    Podem ser ensinadas e treinadas de forma estruturada e sistemática. Isso pode incluir ensinar a compartilhar, esperar a vez, seguir regras em contextos sociais, como jogos ou brincadeiras, responder perguntas, como iniciar e manter conversas, interpretação de situações sociais e compreensão das expectativas sociais, compartilhar interesses e emoções com os outros, e desenvolver relacionamentos saudáveis. Incorporar o ensino de habilidades sociais em atividades diárias e atividades de lazer para aprimorar a generalização.
  4. Expressão Emocional:
    Ensinar a identificar e lidar com as emoções, incluindo a expressão adequada de emoções. Encorajar a pessoa a expressar seus sentimentos e emoções de forma clara e respeitosa, compartilhar interesses e respeitar as opiniões dos outros.
  5. Situações Planejadas:
    Oferecer oportunidades para a pessoa praticar e desenvolver habilidades sociais em situações sociais controladas.
  6. Estabelecer rotinas:
    As pessoas com autismo podem se sentir mais seguras e confortáveis com rotinas pré-estabelecidas e previsíveis.
  7. Modelos e Modelagem:
    Proporcionar modelos positivos de relacionamentos e amizades para que a pessoa possa se inspirar, incluindo a observação de outras pessoas interagindo socialmente, e role-play. Mostrar o comportamento desejado, reforçando-o com elogios, estímulos e fornecimento de feedback
  8. Treinamento de Comunicação:
    Ensinar habilidades de comunicação, a usar a linguagem de forma clara e efetiva, bem como desenvolver habilidades de escuta ativa e compreensão de outras pessoas, incluindo gestos, expressões faciais, tom de voz e palavras apropriadas para a situação.
  9. Terapia Ocupacional:
    Contribui para desenvolver habilidades sensoriais e motoras que são importantes para o comportamento social.
  10. Ensinar estratégias de iniciação:
    Ensinar estratégias para iniciar e manter conversas e interações sociais, incluindo a identificação de temas comuns, a expressão de interesses e a utilização de perguntas abertas.
  11. Confiança e coragem:
    Oferecer suporte e encorajar a participação de autistas em atividades sociais e de lazer para que eles conquistem a confiança para seguir adiante com passos firmes em um suporte positivo.

Com conhecimento, diálogo e ações, podemos mudar nossas relações para um novo modelo, mais acolhedor para autistas, para a neurodiversidade e, consequentemente, para todas as pessoas.

Seria enfim, um mundo melhor? Temos a avassaladora impressão que sim.