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Comportamento Verbal, quem ensina, aprende

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Por Marcia Pedralino

A ABA é a sigla em inglês usada para a ciência da Análise do Comportamento Aplicada. Uma das disciplinas mais importantes da ABA é o Comportamento Verbal. Normalmente utiliza-se o termo verbal para falar da comunicação através da fala ou escrita. Mas Skinner, que foi o pesquisador que desenvolveu a teoria do Comportamento Verbal, incluiu na definição desse termo todos os comportamentos que a gente usa para se comunicar. Ou seja, além da escrita e da fala, o Comportamento Verbal inclui, os gestos como o apontar, as imagens como a figuras e pistas visuais, os sinais de comunicação como a língua brasileira de sinais, enfim, todos os comportamentos que tenham o objetivo de comunicar algo.

O comportamento de comunicação, especialmente a fala, costuma ser aprendido de forma muito natural pelas pessoas típicas, por observação e imitação. Como as crianças autistas costumam ter mais dificuldade de imitar, elas desenvolvem outras formas de se comunicar com a gente, por exemplo, levando nosso braço até uma estante com um carrinho para mostrar que querem o carrinho. Eu achava muito fofo esse comportamento do meu filho e não tinha ideia de que ele fazia isso porque não sabia que poderia apontar ou balbuciar para pedir o carrinho. Ao invés disso, ele usava diretamente a minha mão como um instrumento para obter o que ele precisava.

Foto: Tiago aos 3 anos de idade, antes do diagnóstico de TEA

Mais tarde esse comportamento “evoluiu” para o choro. Eu também não sabia, pelo menos não conscientemente, que quando ele chorava pelo celular, esse era o jeito que ele tinha encontrado de pedir o celular sem falar a palavra “celular”. Eu fui aprendendo, intuitivamente, que quando eu entregava o celular ele parava de chorar, e assim, fui reforçando, ou seja, aumentando a ocorrência desse comportamento. Dessa forma, sempre que ele me via com o celular na mão, bastava chorar para que eu desse o celular para ele.

Esse arranjo de acontecimentos tem um nome técnico, que se chama tríplice contingência: 

Antecedente 

Comportamento Consequência
Mamãe com celular Choro

Mamãe dá o celular

Foi quando a analista do comportamento orientou que eu mudasse essa contingência, ensinando o Tiago a usar um outro comportamento para pedir o celular: o comportamento de me entregar uma figura com a imagem do celular.  

Esse aprendizado deu certo por uma série de motivos. Um deles foi o interesse do Tiago em pedir o celular. Se eu tivesse começado a ensinar o Tiago a pedir uma bola, seria mais difícil, pois ele nem brincava com bola. Outro fator fundamental, foi o fato de, inicialmente, eu entregar o celular, sempre que ele me entregava a figura. Ele percebeu que era mais fácil e rápido entregar a figura do que chorar, e ele ainda por cima ele ganhava muitos beijinhos e elogios por ter agido dessa forma ao invés de chorar.

E assim, nós: eu, a AT, o papai, a vovó, o irmão, fomos estendendo o ensino da comunicação e da fala para outros interesses como a bolacha, a banana, comida, almoço, jantar, pipoca, animais, livro, passear..., tudo foi sendo ensinado e aprendido com interesse, e aos poucos ampliado para outras habilidades como nomear as coisas, objetos e responder perguntas simples.

Nossos desafios não acabaram. Tiago ainda tem dificuldade de fazer comentários como “que legal” ou “que chato”, dificuldade para fazer e responder perguntas, para recontar fatos do dia a dia. Atualmente estamos adicionando a Comunicação Aumentativa Alternativa (CAA) ao processo de ensino com a consciência de que a fala não é o fim, mas um dos muitos meios pelos quais o Tiago vai poder se comunicar. A nós cabe treinar as comunidades familiar, cotidiana e escolar para compreender e se comunicar com o Tiago e com todos os meninos e meninas que assim como ele, têm necessidades complexas de comunicação.

Vem com a gente?