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Cuidando sem Autocuidado

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 5 comportamentos tóxicos da maternidade atípica

Você já cuidou do seu filho sem se cuidar? Você já sobrecarregou a rotina dele com tantas terapias e atividades que faltou tempo para brincar? E você consegue reconhecer e priorizar o que é realmente importante na sua relação com o seu filho?

Eu já cuidei dos meus filhos autistas sem antes cuidar de mim e sei o quanto é difícil equilibrar o cuidado com o autocuidado, ser mãe de dois autistas é uma experiência recompensadora e cheia de desafios diários que podem ser emocionalmente e fisicamente exaustivos. Nós queremos dar aos nossos filhos tudo o que eles precisam, e muitas vezes esquecemos de cuidar de nós mesmas.

Esse é um dos principais dilemas que vivo como mãe e como mãe de autista. Me preocupa a percepção de como isso é recorrente com outras mães e o quanto ainda nos falta consciência da necessidade de equilibrar o cuidado com os filhos, com o cuidado com a nossa própria vida.

Sem ditar regras, afinal, quem é mãe já está pelo pescoço com palpites e lições de tudo que é parente, amiga e influencers, vou compartilhar um compilado fruto de muito estudo e aprendizado que reuni ao longo desses 17 anos de maternidade atípica: 5 fatores que parecem se repetir como uma espécie de padrão tóxico na maternidade atípica e como superá-los com dinâmicas apoiadas nos princípios da ciência ABA (Análise do Comportamento Aplicada)

Espero que isso possa te inspirar a cuidar de si mesma enquanto cuida de seus filhos.

 

  1.  Negligenciando a si mesma

Eu me descuidei ao cuidar dos meus filhos e percebi como o autocuidado é fundamental para manter nossa saúde física e mental, permitindo que possamos fornecer aos nossos filhos a melhor qualidade de vida possível, é fundamental lembrar que não podemos cuidar dos outros se não cuidarmos de nós mesmas, primeiro. É comovente a história da mãe que deixa de se alimentar para proporcionar uma porção maior de comida ao filho, mas lembremos que famintas ficamos desnutridas e aborrecidas, ou seja propensas a ter problemas de saúde, indisposição e impaciência. Quantas vezes depois de uma situação de stress eu me dei conta do quanto estava cansada, com sede, com dor, segurando xixi, ou suportando qualquer outro incômodo além dos meus limites. Quando comecei a priorizar o mínimo bem-estar necessário, pude perceber que isso refletia positivamente no cuidado dos meus filhos.

 

  1.  Repetindo comportamentos improdutivos

Quando eu estava sobrecarregada, muitas vezes acabava repetindo os mesmos comportamentos que não estavam funcionando com meu filho, como por exemplo, gritar exasperada quando ele fazia xixi na roupa na hora da birra. Com o tempo, eu percebi que não importava o quanto eu gritasse ou colocasse de castigo, ele continuava com o xixi na roupa em momentos frustrantes. Percebi que esse comportamento só piorava a situação. Eu precisava aplicar novas estratégias e aprender mais sobre o meu filho, sobre o autismo e sobre como ter uma relação mais saudável com ele. Nesse processo, a ciência ABA (Análise do Comportamento Aplicada) foi muito útil. Além das orientações terapêuticas que eu recebia, saber mais sobre o comportamento do meu filho, também me ajudou a manejar meu próprio comportamento, e me deu compreensão de novas formas de ensinar meu filho a desenvolver novas habilidades e comportamentos.

 

  1.  Fazendo terapia sem o bem-estar

Às vezes, eu me preocupava tanto em garantir o máximo de aproveitamento terapêutico do dia do meu filho autista, que acabava negligenciando o seu bem-estar emocional. Isso pode acontecer quando estamos tão focadas em ensinar novas habilidades e comportamentos, ou seja, em “normalizar” nossas crianças, que acabamos nos esquecendo de dar atenção e amor que a criança tanto precisa. É fundamental encontrar um equilíbrio entre o ensino, terapias e o acolhimento emocional.

 

  1.  Falta de consistência

Eu também já cometi o erro de não ser consistente nas terapias e no ensino do Tiago. Por volta dos 5 anos dele, parei todas as terapias que ele fazia, parei de pesquisar, parei de ler, parei tudo durante uns 4 meses vencida pelo cansaço e pela percepção de que nada estava realmente funcionando como eu desejava. Me agarrei ao devaneio de que ele iria crescer e se desenvolver por conta própria. Ao contrário, ele regrediu. Hoje imagino que isso pode tê-lo deixado confuso e certamente ele perdeu um tempo precioso em uma janela de oportunidade neurológica importante. Já me culpei muito por essa fase, mas hoje compreendo que foi o melhor que pude fazer na época. Logo que percebi o prejuízo, recuperei o fôlego e fui atrás de outros profissionais. É muito importante ter uma abordagem consistente e estruturada na atenção à pessoa autista, seja criança ou jovem, para que ela saiba o que esperar e possa se sentir segura e confortável.

 

  1.  Ignorando os limites pessoais

Finalmente, eu já ignorei meus próprios limites pessoais ao cuidar dos meus filhos, o que acabou prejudicando meu próprio bem-estar físico e mental. É importante reconhecer que é necessário ter tempo para si mesma e se permitir descansar e recarregar as energias. Vale pedir ajuda. Não guardar para si. Muitas vezes deixamos de compartilhar nossas dificuldades com as pessoas mais próximas para não parecer fracas ou carentes, mas se a gente não fala, ninguém vai saber o que passamos. E se isso faz com que as pessoas à sua volta se sintam desconfortáveis, saiba que esse é o objetivo. Quem sabe assim, alguém finalmente se ofereça para te dar uma ajuda. Afinal, só podemos ser as mães que queremos ser, quando estamos bem e saudáveis no corpo e na mente.

 

Receber supervisão de profissionais especializados, estudar e aplicar a ABA no cuidado dos meus filhos me ajudou a desenvolver algumas dessas percepções, a mapear MEUS comportamentos disfuncionais. É incrivelmente gratificante ver os meus progressos aliados aos que meus filhos estão fazendo e perceber esse desenvolvimento conjunto é uma das melhores sensações que uma mãe pode ter.  

Agora, quero dizer para você, MÃE de autista, que você não está sozinha nessa jornada e que existem muitos recursos e comunidades de apoio disponíveis para ajudá-la. Nunca hesite em buscar a minha própria ajuda e compartilhar suas experiências com outras mães de autistas, pois através dessas vivências estamos construindo um mundo mais inclusivo e amoroso. Então, continue em frente, continue cuidando e nunca se esqueça de que, acima de tudo, você é uma mãe incrível e seu filho é uma pessoa maravilhosa e única, digna de todo amor e cuidado que você, estando bem, tem a oferecer.