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As Mulheres e o Autismo

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Anualmente o dia 8 de março reforça a difusão de informações acerca das amplas e profundas diferenças socialmente impostas entre os gêneros no Brasil e no mundo. Essas desigualdades são especialmente visíveis nos campos da educação e da saúde, dois segmentos historicamente vistos como extensões do ofício da maternidade ligados ao cuidado e formação dos filhos.

No âmbito da neurodiversidade essa diferença se impõe de forma ainda mais acentuada. Se a cor azul é requisitada para representar a, já questionada, ampla prevalência do sexo masculino entre os diagnosticados com transtorno do espectro do autismo (TEA), seria necessário pintar de rosa quase a totalidade da rede de atendimento aos autistas que no mundo ideal é formada por uma equipe multidisciplinar que inclui profissionais de múltiplas especialidades incluindo a neuropediatria, psicologia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, fisioterapia, psicopedagogia, pedagogia, música entre outras, são predominantemente ocupadas pelas mulheres de acordo com o IBGE (2000).

Essa percepção é reforçada por um levantamento realizado pela Organização Mundia da Saúde (OMS, 2019) em 104 países que revela que as mulheres representam 70% dos trabalhadores do setor saúde e social e que embora mulheres tenham menos probabilidade do que os homens de ter empregos de tempo integral, sua representação nas ocupações de saúde mais bem pagas tem melhorado continuamente desde 2000, a despeito da persistente disparidade salarial média entre homens e mulheres de cerca de 28% na força de trabalho da saúde.

Adiciona-se a isso a liderança do tratamento em âmbito familiar, normalmente é assumida pelas mães, muitas vezes obrigadas a abdicar da carreira profissional para dar conta das demandas de coordenação, agendamento, transporte, alimentação e capacitação que a educação de uma criança autista exige. Não por acaso, a partir do diagnóstico, o universo de formação profissional de atendimento ao autista acaba recebendo mulheres que já atuavam profissionalmente em outras carreiras e optam por abraçar uma nova formação no ramo da saúde ou educação que concilie a necessidade de atendimento à prole neurodiversa, à uma nova atuação profissional.

Voltando à prevalência do autismo entre os meninos, essa concepção vem sendo questionada pelo crescente diagnóstico tardio de mulheres autistas e o reconhecimento entre especialistas de que os sinais de autismo entre meninas e mulheres diferem dos sinais entre meninos e homens, razão pela qual a maioria dos casos entre o sexo feminino passam despercebidos, especialmente entre autistas de alto funcionamento. Novas pesquisas realizadas no Reino Unido sugerem que a proporção real de autismo seria de 3 casos em homens para 1 mulher.

Assim como na compreensão e desenvolvimento dos autistas a equidade feminina ainda tem um longo caminho a percorrer, mas a boa novidade é que as mulheres avançam continuamente na luta pela superação dos obstáculos historicamente impostos pelo machismo em todas a esferas que ele se impõe. De princesas a cientistas, as mulheres estão de parabéns!


Referências:
World Health Organization. Gender Equity Health Workforce Analysis (2019)
https://www.who.int/hrh/resources/gender_equity-health_workforce_analysis/en/

ONTIVEROS, Eva, HEREDIA, Lourdes. Dia Mundial do Autismo: meninas podem estar deixando de receber tratamento por falta de diagnóstico correto. BBC Brasil. (2019)
https://www.bbc.com/portuguese/geral-47779342

PERES, Paula, YOSHIDA, Soraia, SEMIS, Laís. Por que você não sonha em ser ministra da Educação? Nova Escola, 2018.
https://novaescola.org.br/conteudo/10272/mulheres-na-educacao

ZELIADT, Nicholette. Autism’s sex ratio, explained. Spectrum, 2018.
https://www.spectrumnews.org/news/autisms-sex-ratio-explained/

WERMELINGER, et al. A Força de Trabalho do Setor de Saúde no Brasil: Focalizando a Feminização, Fiocruz, 2010.
http://www.ensp.fiocruz.br/observarh/arquivos/A%20Forca%20de...