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Como funciona a Análise Funcional?

aba análise funcional comportamento iwata
Análise Funcional

A Análise Funcional nos permite identificar fontes de manutenção de comportamentos difíceis antes do tratamento. (Iwata & Dozier, 2008).

Como esse comportamento funciona? Em que ambiente? Quem estava presente? Qual o motivo? Qual a recompensa? De forma resumida, essas são as perguntas que dão forma à uma Análise Funcional, também conhecida pela sigla AF.

É a partir da AF que será possível compreender qual é a real função de cada comportamento a ser trabalhado junto à criança, jovem ou adulto avaliado. Somente a partir da identificação do contexto, contingências e reforços é possível trabalhar um comportamento em suas causas, ao invés da sua forma. Ou seja, uma evolução para além do processo de tentativa e erro que envolve tantos desgastes emocionais e desperdício de tempo dos envolvidos.

Um dos grandes responsáveis por essa visão é o cientista Brian Iwata, um dos pioneiros na investigação experimental da função do comportamento publicando seu primeiro artigo em 1994 analisando a função de comportamento de autoagressão. Mais tarde, em 2008 ele publicou um artigo juntamente com Claudia Dozier em que retoma os princípios da análise funcional e encoraja os profissionais analistas do comportamento a empreenderem a técnica da AF em sua avaliação clínica e também nos ambientes naturais, ampliando o alcance dessa técnica e adicionando mais precisão na identificação e manejo de comportamentos, como poderemos ver a seguir.

Brian Iwata acredita que a Avaliação Funcional pode ser incorporada à rotina do trabalho clínico. 

A Análise Funcional além do laboratório

O objetivo de uma Análise Funcional (AF) é identificar quais são as fontes de reforçamento de um comportamento problema em uma base individual. (Iwata & Dozier, 2008)

Fontes de informação sobre o comportamento problema 

No processo de avaliação dos indivíduos que requerem uma intervenção, o método mais usado é a avaliação indireta por meio da aplicação de escalas junto aos cuidadores, especialmente pela facilidade de implementação pelos profissionais. Embora recomendável, a avaliação indireta está sujeita a falhas e pode se tornar uma base inadequada para o desenvolvimento de um programa de intervenção. Seu uso se justifica quando não há possibilidade de coletar dados diretamente observáveis e quando o cliente é capaz de fazer um relato verbal da extensão e causa do seu problema.

Por outro lado, a análise descritiva, em que os dados são coletados a partir da observação do comportamento alvo no ambiente e contexto em que ele ocorre, pode não mostrar as diferenças entre as contingências sociais que mantêm o comportamento problema (atenção ou fuga, por exemplo).

Componentes fundamentais da Análise Funcional

 Embora os componentes de uma avaliação funcional possam variar em suas características quantitativas e qualitativas, normalmente se utilizam do seguinte formato: observação de um comportamento sob uma situação teste bem definida em oposição às condições de controle.

A situação teste contém a variável cuja influência está sendo avaliada. De acordo com as pesquisas, um conjunto de reforçadores se mostraram prevalentes na manutenção de comportamentos difíceis.

Reforçador

Exemplo

Reforço social positivo

Atenção contingente, elogio, sorriso, olhar

Reforço social negativo

Fuga de demanda, retirada da tarefa

Reforçamento automático

Mantido sozinho, estimulação sensorial

Atenção compartilhada

Manutenção brincadeira ou conversa

Acesso a tangíveis

Guloseimas ou brinquedos

Evasão social

Fuga de interação

 

Eventos consequentes sãos aqueles ocorridos imediatamente após um comportamento e possam servir como reforçadores.

Um teste de condições é importante para verificar se determinado comportamento observado no teste ocorreria independentemente das condições.

Em uma perspectiva de pesquisa, a credibilidade na coleta dos dados exige: a) mensuração (variável dependente), b) aplicação de tratamento (variável independente), e c) potenciais fontes de erro.

Adapte!

Considerando que os programas de intervenção são precedidos por uma observação inicial do cliente e das pessoas importantes no ambiente em que o tratamento irá ocorrer e pela coleta de dados de base, é possível implementar a AF adicionando o pré-requisito a inclusão de um teste e condições de controle relacionados à estímulo e reforço. Para ajudar os profissionais a visualizarem de que forma podem aplicar variações da AF os autores elaboraram o quadro.

Variações da Análise Funcional (AF) 

Método

Recursos chave

Melhores usos

AF completa

Repetição de mensurações, múltiplas condições de teste.

Poucas limitações à avaliação

AF resumida

Sessões breves (em número e duração)

Tempo de avaliação limitado

Teste para única função

Teste e controle somente para uma função

Suspeita de uma função específica

Séries individuais

Repetição de sessões em que o indivíduo permanece sozinho

Suspeita de reforçamento automático

AF precursora

AF de comportamentos correlatos

Comportamento de alto risco

AF de latência

Sessões encerradas após a primeira resposta comportamental

Comportamento de alto risco

AF baseada em tentativa

Avaliação implementada em atividades em andamento

Controle de ambiente limitado.

 

Na falta de um observador treinado para coletar dados, uma gravação em vídeo pode suprir a necessidade do terapeuta em “corpo presente” na avaliação, assim como a coleta de dados em anotações de planilha. Por outro lado, estudos demonstram que estudantes universitários, professores e profissionais treinados podem adquirir as habilidades necessárias para conduzir sessões de AF com competência passando por um treinamento muito breve.

Roteiros e situações de “faz de conta” (role-play) podem ser facilmente produzidos para demonstrar a apresentação correta do antecedente e dos eventos consequentes.

 Para Iwata e Dozier a adoção de abordagens experimentais na avaliação comportamental clínica são uma oportunidade única de contribuir para o tratamento dos distúrbios psicológicos buscando a sua causa ao invés de se restringirem aos “sintomas”.

No apêndice do artigo, os autores apresentam uma série de exemplos de Condições de Análise Funcional.

Teste de Condições para Manutenção por Reforço Social Positivo

1) Evento antecedente:

 a) Condição de atenção: comece a sessão informando ao cliente que você está ocupado e “precisa finalizar um trabalho”. A seguir, afaste-se e ignore o comportamento do cliente, exceto nas condições a seguir.

 b) Variação da “atenção compartilhada”: Comece a sessão da mesma forma como descrito anteriormente e comece a dar atenção para outro adulto ou para o colega do cliente.

 c) Variação de item “tangível”: Identifique um item que é muito desejado pelo cliente e permita que ele tenha livre acesso a ele logo antes de começar a sessão. Comece o atendimento solicitando e retirando o item como na condição de atenção.

  1. Evento consequente:

a) Comportamento diferente do comportamento-alvo: Se o comportamento alvo não ocorrer (ou se qualquer outro comportamento que não seja o alvo ocorrer), o evento antecedente permanecerá em efeito até o final da sessão.

b) Comportamento problema: Se o comportamento alvo ocorrer, dê atenção, normalmente na forma de uma reprimenda leve, um comentário de preocupação e algum contato físico reconfortante (ou resposta de bloqueio). Na variação de item tangível, entregue o item por um curto período (cerca de 30 segundos).

Após entregar atenção ou o item tangível, reinstale o evento antecedente.

  Teste condições para Manutenção por Reforço Social Negativo

  1. Evento antecedente:

 a) Condição de demanda de tarefa: Aplique repetidas tentativas de ensino ao longo da sessão usando tarefas acadêmicas ou vocacionais que sejam apropriadas para o nível de habilidades do cliente, mas que de alguma forma exijam um pouco mais de esforço. Normalmente, uma tentativa começa com uma instrução seguida, de acordo com a necessidade, de dicas gestual e se necessário, ajuda física.

 b) Variação fuga social: Inicie a interação social com o cliente em intervalos frequentes ao longo da sessão. Não se restrinja à aplicação das tarefas acadêmica, mas gradativamente tente inserir dicas de interação através de comentários sobre objetos na sala, fazendo perguntas, etc.

  1. Evento consequente:

a) Comportamento diferente do comportamento-alvo: Elogie respostas apropriadas (concentração na execução da tarefa, qualquer resposta socialmente apropriada na condição de evasão social).

b) Comportamento problema: Se o comportamento problema alvo acontecer, encerre a tarefa imediatamente (ou a interação em andamento) e afaste-se do cliente por cerca de 30 segundos, para então reiniciar a condição antecedente.

Teste de condição para Manutenção por Reforçamento Automático

  1. Evento antecedente: Essa condição é formatada para determinar se o comportamento problema irá persistir na ausência de estímulo; se sim, provavelmente não é mantido por consequências sociais. Portanto, esse teste deve idealmente ser aplicado com o cliente sozinho em um ambiente pouco estimulante, e sem que haja um evento antecedente programado. 
  1. Evento consequente: Nenhum.

Condição de Controle (Brincadeira/ Jogo)

Essa condição é programada para eliminar ou minimizar os efeitos prováveis de ocorrerem nos testes de condições. Logo, isso tipicamente envolve livre acesso aos itens de diversão ao longo da sessão, a frequência de entrega de atenção e a ausência de demandas (Atenção: Se a evasão social é uma hipótese, atenção deve ser suprimida). Ocorrências de comportamento problema não produzem consequências, além do atraso na entrega de atenção por um curto período (5 a 10 segundos).

Tradução Apêndice A – Condições de Análise Funcional (IWATA, B., DOZIER, C.. Clinical Application of Functional Analysis Methodology, Behav Anal Pract. 2008).