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Saúde Mental e Física para Mães de Autistas e Neurodivergentes

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Seja forte! Como principal referência de cuidado para um familiar autista ou neurodivergente, você já deve ter ouvido essa recomendação. Normalmente ela é dirigida a você após um momento difícil e costuma ser direcionada à sua capacidade de manter-se calma em um momento delicado.

Compreensível, afinal cuidar de uma criança já é uma jornada de imensa dedicação que se torna ainda mais sobrecarregada e solitária no caso de uma criança que “ninguém quer cuidar”, como costumam se referir às crianças autistas e neurodivergentes. Para dar conta dessa responsabilidade de tão longo prazo é fundamentar se conscientizar de que a força necessária para essa tarefa não surge do nada. Ela precisa ser construída e, principalmente, mantida. Muitas vezes, na ânsia de oferecer o melhor cuidado possível, a saúde da própria cuidadora — especialmente a mental — é negligenciada.

Para além do conselho "se cuide”, quero te contar um pouco do que a ciência diz sobre o impacto do cuidado na saúde mental e confidenciar que as recomendações mais conhecidas, como a terapia e o exercício físico, não são um luxo, mas sim estratégias essenciais para sustentar seu bem-estar e o de toda a sua família.

A Carga Emocional do Cuidado

A discussão sobre a saúde mental de cuidadores é um fato validado por pesquisas sérias. Uma revisão sistemática de estudos sobre o tema revelou que mães de crianças com deficiência apresentam uma incidência muito maior de transtornos de saúde mental em comparação com a população geral.

  • Um amplo estudo canadense revelou que cerca de 7 em cada 10 mães tinham depressão;
  • Outra pesquisa, também do Canadá, mostrou que 83% das mães de crianças com transtornos de desenvolvimento já haviam sido diagnosticadas com depressão ou outra condição de saúde mental.

Esses números mostram que o estresse da maternidade atípica é crônico e pode evoluir para quadros clínicos que exigem atenção profissional.

Ignorar os próprios sinais de esgotamento não é sustentável e, a longo prazo, pode comprometer a capacidade de cuidar e inclusive causar uma morte prematura da mãe ou do filho. Os noticiários têm muitos exemplos de mães que morreram de causas derivadas de doenças controláveis como hipertensão e acabam sendo encontradas dias depois da morte, ou pior, acabaram causando a morte do próprio filho neurodivergente.

Para Fortalecer a Mente: Terapia e Psicoeducação

Se o desafio é grande, as ferramentas para enfrentá-lo também precisam ser fortes. A mesma revisão de estudos que apontou o problema também identificou as soluções mais eficazes. Intervenções focadas na saúde mental materna demonstraram resultados positivos e significativos. As abordagens mais eficazes foram:

  • Abordagens Cognitivo-Comportamentais (TCC): A Terapia Cognitivo-Comportamental provou ser eficaz tanto para reduzir o estresse materno quanto para melhorar a saúde mental de forma geral. Essa abordagem terapêutica ajuda a identificar e modificar padrões de pensamento e comportamento que contribuem para o sofrimento emocional, oferecendo estratégias práticas para lidar com os desafios diários.
  • Abordagens de Psicoeducação: Programas que oferecem educação sobre saúde, estresse, ansiedade e estratégias de enfrentamento também se mostraram muito eficazes para melhorar a saúde mental. Entender o que está acontecendo com seu corpo e mente é o primeiro passo para assumir o controle.

Saiba: Procurar um psicólogo não é um sinal de fraqueza, mas sim um ato de responsabilidade com a sua própria saúde. É um investimento direto na sua resiliência e na sua capacidade de continuar sendo o porto seguro que sua família precisa.

O Poder do Movimento como Aliado da Mente Materna

A terapia é fundamental, e o exercício físico é um dos seus maiores aliados. A prática regular de atividades físicas traz benefícios físicos concretos, como melhora da força, mobilidade e redução da gordura corporal.

Mas, o impacto vai além. O exercício é um regulador de humor e sono natural. Ele ajuda a diminuir os sintomas de depressão e ansiedade e funciona como uma válvula de escape para o estresse acumulado. Combinar o trabalho mental da terapia com o trabalho corporal do exercício cria uma sinergia fundamental para termos um bem-estar completo.

O Efeito Dominó: Seu Bem-Estar Transforma o Ambiente Familiar

Cuidar da sua saúde mental e física gera um efeito cascata positivo. Estudos mostram que, à medida que o bem-estar das mães melhora, a qualidade de vida psicossocial dos filhos também apresenta melhoras. Em outras palavras, ao investir em si mesma, você está investindo diretamente na saúde de todo o seu núcleo familiar.

Primeiros Passos

A mudança começa com uma decisão diária.

  • Para a Saúde Mental: Pesquise por psicólogos especializados em TCC ou que trabalhem com pais e familiares de pessoas com deficiência. Considere opções online, que oferecem mais flexibilidade de horários. Busque apoio na sua comunidade. Mobilize outras mães e peça atendimento de saúde mental no CAPS ou UBS mais próximo. Se não há, aí está uma boa reivindicação para você fazer na próxima eleição para o seu candidato.
  • Para a Saúde Física: Lembre-se da regra dos 15 minutos. Uma caminhada, um alongamento ou uma sessão de dança na sala, na rua, na escadaria do prédio. O importante é começar todos os dias.

Fortaleça o Amor

Ser a força do cuidado exige mais do que amor; é preciso ter compromisso com a própria saúde. Não veja a terapia e o exercício físico como itens a mais na sua lista de tarefas, mas sim uma base que tornará todo o resto possível. Ao fortalecer sua mente e seu corpo, você garante a sustentabilidade do seu cuidado e a saúde de toda a sua família.