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Sementes da inclusão

sementes da inclusão

Como 5 negativas de matrícula se transformaram em uma associação que promove a inclusão de autistas.

Com o aumento de crianças diagnosticadas com autismo também tem aumentado a quantidade de mães e pais que passaram a dedicar parte ou toda a sua vida e trabalho à difusão de conhecimento sobre o autismo. Não são poucas as histórias de mulheres que enfrentaram grandes dificuldades para ter a condição das suas crianças reconhecidas por médicos através de um diagnóstico e posteriormente, a luta para conseguir acesso a tratamento especializados e de qualidade.

Isso sem falar no confronto diário contra o preconceito na forma do capacitismo de pessoas que insistem em afastar pessoas com deficiência, especialmente autistas de níveis 2 e 3, dos espaços públicos de convivência e da própria escola regular.

Quando a dor do preconceito cede espaço para a atitude conscientizadora sobre o que é o autismo e sobre como TODAS as pessoas autistas merecem e precisam ser integradas socialmente, vemos se multiplicarem as sementes do conhecimento, da empatia e da inclusão verdadeira e vemos ainda nascer uma nova identidade para essas famílias que passam a se reconhecer em uma luta que vai além do bem-estar dos seus próprios filhos, mas se estende para o bem-estar de todos os autistas e das outras pessoas com deficiência.

Inspirados no livro Longe da Árvore, de Andrew Solomon, traremos histórias sobre as sementes lançadas a partir dessas maternidades e paternidades atípicas que precisam ser mais e mais compartilhadas. Para estrear essa sessão apresentamos a história da Carol Freire, que mora em Itajubá-MG, é professora, casada e mãe de dois adolescentes autistas, Nicoly, 17 e Gabriel, 14.

Logo que foi diagnosticado, aos 3 anos, Gabriel foi encaminhado para a APAE local, onde recebeu os primeiros atendimentos especializados e no mesmo ano também iniciou a terapia com a nossa querida fono Gislene Tonisi. Esses tratamentos logo lhe renderam desenvolvimento da comunicação social e o encorajamento necessário para Carol matriculá-lo em uma escola regular.

Inicialmente, Carol pensou que em uma escola particular Gabriel encontraria mais estrutura para aprender. Qual não foi sua surpresa quando 5 escolas diferentes se recusaram a matricular seu filho alegando despreparo. Esqueceram de falar da falta de vontade de se preparar, não é mesmo?

Diante de tantas recusas, Carol recorreu à uma escola municipal, onde finalmente seu filho foi aceito, com a ressalva de que era o primeiro aluno autista daquele estabelecimento de ensino. A primeira professora de Atendimento Educacional Especializado (AEE) de Gabriel, Lucimara, ficou surpresa ao ver que seu novo aluno era bem diferente dos estereótipos de autistas que ela via nos filmes.

Ouvindo a experiência da Carol e das terapeutas que atendiam Gabriel, a professora descobriu novas possibilidades de ensino que para seu próprio espanto deram muito certo e abriram seus olhos para perceber o autismo na própria filha, que acumulava anos de dificuldades de interação e comunicação que eram parecidas com algumas dificuldades do Gabriel.

E esse foi o início de muitas trocas que se estenderam a dezenas de outras mães de Itajubá e redondezas dando origem a um grupo de Whatsapp que cresceu tanto que se transformou na AGAI – Associação Grupo de Apoio à Inclusão em Itajubá, que além de compartilhar informações sobre diagnóstico, tratamento e inclusão de autistas, também tem um grupo de orientação parental gratuita e faz eventos de confraternização de familiares e autistas, contando com mais de 2,4 mil seguidores no Facebook.

E o mais lindo, foi o nascimento do canal do YouTube @gabgames7818, que nasceu a partir de um interesse que está sendo trabalhado para ampliar sua comunicação. Nesse vídeo, você vai poder conferir uma entrevista deliciosa da Carol com seu filho Gabriel contando um pouco mais da sua trajetória.

 

Infelizmente o período da pandemia trouxe retrocessos na conscientização de mães, pais e profissionais da educação de Itajubá, assim como no Brasil. Para reverter esse cenário a AGAI está concentrando esforços para combater o capacitismo, a discriminação e a falta de estrutura para atender autistas.

A história da Carol, do Gabriel e da Lucimara nos inspira porque demonstra as possibilidades de sentido e crescimento individual, familiar e social que o autismo possibilita às pessoas. É uma deficiência, sim. É limitadora da vida? Depende muito de como cada pessoa interpreta e uma das mais importantes está na família. Nesse exemplo enxergamos muito mais crescimento do que limitações.

E você, qual é a semente que a sua jornada como pai ou mãe plantou em sua vida?